Foi meu terceiro casamento, tenho agora, dois maridos e uma mulher.
Meu primeiro casamento foi com o Sol.
Eu era menina moça ainda, foi ele o primeiro a tocar os fios de ouro de todo meu corpo (a la Pombinha em inesquecível cena de Aluízio de Azevedo).
Teve festa de casamento com os pássaros, o céu, as árvores - todos presentes, todos felizes e radiantes. Brilhávamos ele e eu à luz dourada que até hoje nos abençoa.
Meu segundo casamento, ao contrário, não teve festa. Foi tudo tão natural, tão nosso, tão intrínseco a nossos seres que da noite para o dia, literalmente, amanheci casada com ela. E de foto em foto, poesia em poesia, música e música casamos a Lua e eu tão completamente que não posso viver sem ela.
Nosso amor é tão grande que vivemos num céu só nosso, brilhando abençoadas pela imensidão da escuridão e vez por outra as estrelas testemunham esse amor feminino tão verdadeiro, belo, intenso que só existe no negro azul (quente) da noite.
Ontem, no entanto, foi diferente. Há tempos, é verdade, sei que pertenço ao mar, mas ontem, ele me pediu em casamento com anel de coco (como todo anel que se preza deve ser) e eu serena e feliz aceitei.
O mar é aquele amante amigo sincero e às vezes até um pouco rude, é que a verdade e a vida nem sempre são doces ele insiste em me lembrar, me envolvendo em seus braços salgados e me amando.
Às vezes é preciso um chacoalho, uma onda mais forte, umas verdades bem ditas para entender seu balanço, para entender a vida.
Mas depois fica tudo bem, tudo sempre fica bem onde há amor, e o mar e eu nos amamos tanto e mesmo nem sempre perto somos abençoados por nossas lembranças e pela saudade que nos envolve.
Tenho agora, dois maridos e uma mulher. E os amo tão completa e intensamente que respiro amor aonde vou.
BCC
01 e 02.01.2018
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