domingo, 22 de outubro de 2017

Perdoa-me por me traíres - cartas de amor - parte I


Perdoa-me por me traíres – cartas de amor

Nelson Rodrigues em sua genialidade brasileira escreveu em 1957 uma peça de teatro cujo nome utilizo neste conto: “Perdoa-me por me traíres”, explico o porquê: quando há certo tempo li sua obra, muito me chamou atenção tal sentença que dá o tom da peça, muito embora a história criada por Nelson vá além dessa ideia, como anjo pornográfico, como ele mesmo se denominou, o autor vai por caminhos complexos e demasiadamente humanos com seus personagens.

Não é isso o que faço aqui. Meu conto, portanto, de Nelson, só tem a referência do nome, o que não é pouco, pois a história redigida em cartas sem remetentes aparentes, mas com destino certo, trata sobretudo do amor a partir dessa que considero uma célebre frase que o querido autor nos presenteou – perdoa-me por me traíres.


I.

Eu te amo, sempre te amei e para sempre te amarei.
Meu amor, contudo, não foi suficiente, não foi suficiente para te fazer me amar assim como eu te amo, para me fazer teu ar, a razão de tua vida, para completar teus pensamentos, para viver contigo por toda eternidade. Meu amor não foi suficiente para te fazer feliz, para me fazer feliz ao seu lado, não obstante, não te culpo, a culpa – se é que há culpa – é toda minha, o meu amor afinal é que não foi suficiente.
Peço-te, pois, perdão. Perdão por te amar tanto e não conseguir compartilhar esse amor. Perdoa-me por não te ter feito feliz – esse era o meu maior desejo. Perdoa-me, meu amor, por não te fazer me amar, por ter falhado - nessa que eu considerava minha maior missão – amar e ser amado. Perdoa meu amor incompreendido e, finalmente, perdoa-me por me traíres.

De quem te ama do fundo da alma e por toda eternidade te amará.



II.

Eu juro, juro que tentei. Tentei te amar assim como tu me amas, tentei do fundo da alma, mas não pude, não consegui mandar no amor, não consegui fazer com que ele te escolhesse.
Só Deus sabe o quanto tentei, o quanto persisti, mas não deu para te fazer o ser mais importante para mim, não pude, simplesmente não pude...


De quem tentou te amar, mas falhou.


Continua...

sábado, 14 de outubro de 2017

Rosas - parte final


Um dia sua mulher morreu, morreu e deixou para ele a missão mais difícil do mundo – passar a magia da vida mesmo desacreditado dela – afinal aquela sensação de perfeição fora a melhor coisa que sentira, ainda que não houvesse durado muito, não poderia deixar que seu filho, o ser mais amado do mundo não a sentisse ao menos uma vez, sem tal sentimento não valeria de nada a vida.

Resolveu voltar para a cidadezinha, agora com um bebê nos braços, iria criá-lo ali naquele antro de paz e amor. Criá-lo-ia com a ajuda do sol, em meio aos pássaros, às plantas e às flores, só não em meio às rosas.

Durante um ano faltou-lhe coragem para entrar na casinha dos fundos, até que um dia enquanto seu filho dormia, seus olhos seguiram um raio de sol que ia para lá, não pôde evitar. Abriu a porta de madeira, uma luz intensa atingiu seus olhos, o sol continuava a viver ali, ficou receoso em olhar para baixo, inclinou a cabeça devagar.

Não pôde acreditar no que estava vendo, lá estavam elas – inteiras, lindas, radiantes com aquela cor somente delas. Por um momento pensou que não era verdade, se aproximou, tocou-as. Essas não eram suas amantes, eram suas esposas. Naquele momento compreendeu tudo.

Pouco depois seu filho acordou, trouxe-o para as ver, a pequena criaturinha as amou assim como seu pai. O menininho, entretanto, como todas as crianças, era mais sábio que o homem e quando as rosas começaram a partir, ele começou a preparar o terreno para as que nasceriam em breve. Despediu-se delas com beijo e um sorriso e disse algumas palavras em sua língua de criança pequena.

O pai, encantado, ficou a observá-lo e percebeu que estava enganado, não era ele que havia de passar a magia para o pequeno e sim o contrário. E a criaturinha cumpriu sua missão ajudada por suas amigas rosas que estariam sempre prontas para responder todas as perguntas da vida na cidadezinha onde o sol se demora mais. 

                                                                                                                                       08.03.2009
Fim
BCC

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O Belo Palco


O Belo Palco

BCC

E eu me tornei tão pequenininha

Mas meus desejos e vibrações tão gigantes

Podiam atravessar todo o mundo

Saíam de mim e encontravam a imensidão,

logo, contudo, a preenchiam de tão grandes que eram

Eles levaram paz, amor, luz e entendimento a cada pedacinho

A cada serzinho

Todo o mundo tornara-se agora um pouco melhor

A Terra continuará a ser um belo palco

E muitos atores terão a chance de se melhorarem

22.04.2009 

Rosas - parte IV


Enquanto visitava suas rosas, notou que uma estava machucada. Uma de suas pétalas estava fraca e parcialmente rachada. Aquela rachadura doeu nele, não entendia como aquilo havia acontecido, ninguém sabia da existência delas. Como ela havia se machucado? Ficou decepcionado.

Dali para frente, no entanto, só teve decepções. Primeiro uma, depois outra, todas aos poucos foram caminhando para o inevitável. Ele não compreendia, não queria compreender. Será que faltava amor? 

Mas como? Se as amava mais do que tudo. O sol também só as ajudava, vinha quando necessário e mandava chuva quando tinham sede.

Nesses dias, ele ficou angustiado, triste, já não apreciava mais a beleza da vida, não podia compreender que tudo estava perfeitamente certo, não enxergava que a morte está no destino de todos os seres e que com ela há também o renascimento – de quem fica e de quem vai.


E aos poucos todas elas foram. Aquele cantinho que antes era um ninho de amor e alegria, agora tornara-se um túmulo de tristeza e descrença. Foi ainda por alguns dias até lá, olhava para o lugar em que elas ficavam e chorava, até que parou de ir.

Coincidência ou não, a mulher saiu do emprego algum tempo depois. Tinham então de decidir se ficariam ou partiriam da cidadezinha. Resolveram partir.

Ali, ele havia descoberto o verdadeiro amor pela vida, havia presenciado a mais singela beleza e a inatingível perfeição, ali também sofreu a maior decepção de todas, sentiu na pele a efemeridade do mundo e carregou na alma a tristeza da incompreensão.

Foi embora, foi viver sua vida sem a magia daquele lugar, sem o encantamento que aprendera a sentir. Os anos passaram, alguns bons outros nem tanto, mas nenhum mágico como aquele, como o ano das rosas.

Um dia ...

Continua...

A realidade extrapola a imaginação

Foi me dito que a realidade extrapola a imaginação, e, confesso que isso me tocou de alguma sorte, logo eu, que sou toda imaginação, que ado...