Perdoa-me
por me traíres – cartas de amor
Nelson Rodrigues em sua genialidade
brasileira escreveu em 1957 uma peça de teatro cujo nome utilizo neste conto: “Perdoa-me por me traíres”, explico o
porquê: quando há certo tempo li sua obra, muito me chamou atenção tal sentença
que dá o tom da peça, muito embora a história criada por Nelson vá além dessa
ideia, como anjo pornográfico, como ele mesmo se denominou, o autor vai por
caminhos complexos e demasiadamente humanos com seus personagens.
Não é isso o que faço aqui. Meu conto,
portanto, de Nelson, só tem a referência do nome, o que não é pouco, pois a
história redigida em cartas sem remetentes aparentes, mas com destino certo,
trata sobretudo do amor a partir dessa que considero uma célebre frase que o
querido autor nos presenteou – perdoa-me por me traíres.
I.
Eu te amo, sempre te amei e para
sempre te amarei.
Meu amor, contudo, não foi
suficiente, não foi suficiente para te fazer me amar assim como eu te amo, para
me fazer teu ar, a razão de tua vida, para completar teus pensamentos, para
viver contigo por toda eternidade. Meu amor não foi suficiente para te fazer
feliz, para me fazer feliz ao seu lado, não obstante, não te culpo, a culpa –
se é que há culpa – é toda minha, o meu amor afinal é que não foi suficiente.
Peço-te, pois, perdão. Perdão por
te amar tanto e não conseguir compartilhar esse amor. Perdoa-me por não te ter
feito feliz – esse era o meu maior desejo. Perdoa-me, meu amor, por não te
fazer me amar, por ter falhado - nessa que eu considerava minha maior missão –
amar e ser amado. Perdoa meu amor incompreendido e, finalmente, perdoa-me por
me traíres.
De quem
te ama do fundo da alma e por toda eternidade te amará.
II.
Eu juro, juro que tentei. Tentei te
amar assim como tu me amas, tentei do fundo da alma, mas não pude, não consegui
mandar no amor, não consegui fazer com que ele te escolhesse.
Só Deus sabe o quanto tentei, o quanto
persisti, mas não deu para te fazer o ser mais importante para mim, não pude,
simplesmente não pude...
De
quem tentou te amar, mas falhou.
Continua...