sábado, 14 de outubro de 2017

Rosas - parte final


Um dia sua mulher morreu, morreu e deixou para ele a missão mais difícil do mundo – passar a magia da vida mesmo desacreditado dela – afinal aquela sensação de perfeição fora a melhor coisa que sentira, ainda que não houvesse durado muito, não poderia deixar que seu filho, o ser mais amado do mundo não a sentisse ao menos uma vez, sem tal sentimento não valeria de nada a vida.

Resolveu voltar para a cidadezinha, agora com um bebê nos braços, iria criá-lo ali naquele antro de paz e amor. Criá-lo-ia com a ajuda do sol, em meio aos pássaros, às plantas e às flores, só não em meio às rosas.

Durante um ano faltou-lhe coragem para entrar na casinha dos fundos, até que um dia enquanto seu filho dormia, seus olhos seguiram um raio de sol que ia para lá, não pôde evitar. Abriu a porta de madeira, uma luz intensa atingiu seus olhos, o sol continuava a viver ali, ficou receoso em olhar para baixo, inclinou a cabeça devagar.

Não pôde acreditar no que estava vendo, lá estavam elas – inteiras, lindas, radiantes com aquela cor somente delas. Por um momento pensou que não era verdade, se aproximou, tocou-as. Essas não eram suas amantes, eram suas esposas. Naquele momento compreendeu tudo.

Pouco depois seu filho acordou, trouxe-o para as ver, a pequena criaturinha as amou assim como seu pai. O menininho, entretanto, como todas as crianças, era mais sábio que o homem e quando as rosas começaram a partir, ele começou a preparar o terreno para as que nasceriam em breve. Despediu-se delas com beijo e um sorriso e disse algumas palavras em sua língua de criança pequena.

O pai, encantado, ficou a observá-lo e percebeu que estava enganado, não era ele que havia de passar a magia para o pequeno e sim o contrário. E a criaturinha cumpriu sua missão ajudada por suas amigas rosas que estariam sempre prontas para responder todas as perguntas da vida na cidadezinha onde o sol se demora mais. 

                                                                                                                                       08.03.2009
Fim
BCC

Um comentário:

  1. Lindo. Amei a forma sutil de abordar os ciclos. Tudo na vida é cíclico. Os seres nascem com todo o seu esplendor e em determinado momento, a curva descendente se inicia. Alguns seres tem a sorte da velocidade do fim ser lenta e ainda sim cada fase tem sua beleza, seu auto-conhecimento, outros chegam ao fim com mais brevidade. As rosas têm vida curta, mas cumprem seu papel de encantar por sua doce beleza e seduzir com seu aroma tão particular com maestria. As pessoas também podem cumprir seus papéis, sendo doces, aprendendo sempre, não perdendo a oportunidade de auxiliar. C'est la vie.

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