sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Repetindo o milagre


Eu amo o amanhecer e o anoitecer.

Amo o acordar e o adormecer.

São pequenos milagres diários que ocorrem a todos sem exceção durante toda a vida na Terra.

Perder-se no sono, abandonando-se a si mesmo para adentrar em outra dimensão e voltar, voltar quantas vezes forem necessárias, voltar e despertar diariamente para vida nova que não cessa de se repetir sem nunca deixar de ser novidade instantânea a cada segundo diferente do anterior.

Há quem considere os dias iguais e há quem faça diferença entre os dias, já dizia Paulo há quase dois mil anos.

Os dias, não obstante, continuam a amanhecer e anoitecer e nós continuamos a adormecer e a despertar diária e incessantemente, repetindo o milagre.

Simplesmente repetindo o milagre.

BCC 
14.09.2018

terça-feira, 11 de setembro de 2018

O cavalo sem nome



Um cavalo pisou no meu pé.
E foi o cavalo que mais amei na vida. Eu nunca tive contatos estreitos com cavalos, é verdade, mas o que me aconteceu com ele, com aquele cavalo cujo nome nunca saberei se é que ele tem um nome - para quê nomes diante de atos e afetos?- foi me tão  surpreendente que custei a acreditar.
A verdade é que o que nos aconteceu foi como um amor a primeira vista, a vista dele, confesso. Não havia reparado especificamente nele até que ele o tivesse feito comigo.
Entrei no lugar que eles estavam com ela, e ela tem toda uma história com eles, os cavalos, eu, não.
Sempre os admirei, admito, mas de longe, é possível contar nos dedos quantas vezes me aproximei de cavalos reais.
Acho lindo a liberdade da corrida dos cavalos selvagens, quando vemos naqueles programas de animais, aqueles seres magníficos enormes correndo apenas porque correr faz parte de sua natureza. Já dizia o poeta, os cavalos são os bichos mais perfeitos que existem simplesmente por serem cavalos.
Concordo com isso.
Mas os cavalos domesticados, esses que as pessoas montam nunca me chamaram tanta atenção, os acho tão perfeitos para estarem submetidos a nossa pequenez humana... enfim, não tinha proximidade alguma com tais seres incríveis, apesar de realmente os considerar belos milagres da criação.
Acontece que quando entramos no cercado, ela foi falar oi para eles e eu, mais tímida fiquei próxima a porteira, esperando alguma confiança aparecer de algum lugar em mim. A confiança não veio antes dele me alcançar, de longe onde estava, ele veio certeiro em minha direção, se mostrou para mim, me amou e me incitou a amá-lo, era impossível não fazê-lo.
Andei pelo cercadinho e ele me seguiu, veio com tanto amor que pisou em meu pé. Nunca havia amado um cavalo, nunca havia sentido a dor do amor, e como doeu. Meu pé ficou latejando, lagrimas involuntárias saltaram de meus olhos e eu não podia fazer outra coisa se não amá-lo ainda mais.
Ele queria carinho, queria ficar perto, talvez comer, talvez ir embora, eu não sei, mas ele ficou por perto, ele pediu carinho, ele doou amor.
Quando fomos embora, ele foi até a porteira e bateu sua pata no portão, voltamos, é claro, e o amamos mais um pouquinho.
Nunca irei esquecer o dia em que o cavalo pisou no meu pé. O cavalo sem nome que eu mais amei na vida.
BCC 
11.09.2018 
sobre domingo 09.09.2018

Vidas passadas

Eu não pude deixar de olhar para você, foi num ínfimo de segundo que nossos olhares se cruzaram e eu me vi ao invés de te ver, vi o que seus...