Sacramento, domingo cedinho, quarto de hotel.
Miau, miau miau.
Onde está o gatinho que tanto mia?
O que será que ele quer?
Abro parcialmente a janela, a luz entra, mas não o consigo ver.
Miau, miau, miau - os miados continuam.
Abro a janela inteira, o procurando, olho para baixo e lá está ele, ou será ela?
Ele mia olhando para mim, olhos verdes claros brilhantes, corpinho laranja, parece querer se achegar, mas como?
Da onde ele vem? Será que ele é do hotel? Será que ele quer entrar?
Saio do quarto para ver a porta do lado que dá para o estacionamento onde ele está, a porta está trancada, mas o que é uma porta fechada, se há uma janela aberta?!
Assim que entro no quarto de volta, ele entra pela janela - surpresa! - ele conseguiu pular, é claro, é um gato e gatos saltam, gatos entram onde querem.
Ele entrou em meu coração.
O que eu faço? Pega ele e coloca para fora diz minha colega do banheiro, sem dar muita atenção ao incrível visitante inesperado.
Chego pertinho dele e faço carinho, não sei se posso pegá-lo, não tenho tanta intimidade com gatos, já fui meia-mãe de Caetano e sinto saudades dele, será que eu sei?
Ele se derrete em meu carinho, vira a cabecinha, inclina as orelhinhas, ronrona, ah, meu coração se alegra, ele gosta de meu carinho, ronrona e entra ainda mais em meu coração.
O pego no colo com cuidado, ele deixa, o levo ainda de camisola até a recepção, torcendo para que ele seja do hotel, para que fique, também aqui e não só em meu coração.
O dono do hotel me olha espantado, não ele não é daqui, é gato de rua, cuidado, diz ele. Pode colocar ali fora, deve ser da vizinhança, completa.
O coloco na porta delicadamente, mas gatos são gatos, entram onde querem entrar, ele, lógico, entra de novo no hotel, o dono vai atrás, o gatinho indiferente a de quem é o prédio, corre pelos corredores, entra e sai de meu quarto antes que eu volte e vai embora - não o vejo mais.
Mas ainda assim, ele ficou, ficou em meu coração.
17.07.2022