quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Fogo


É impressionante como o fogo faz as coisas tremerem, trepidarem, mesmo as que não estão em contato direto não conseguem ficar paradas ainda que não se mexam.

Será que é por isso que quando nosso coração está em brasa não conseguimos parar de tremer? Nossos dedos fogem do nosso controle, ficamos abestalhados, a respiração falha e milhares de borboletas se estapeiam em nossa barriga?

 BCC


2016

Saudades


Estou com saudades, saudades de ti, daquele tempo que não me lembro, de ti que não sei bem quem é, mas ainda assim sinto saudades, um sentimento repleto de amor e de vontade. Inaudível, inexplicável, sinto apenas, sinto dentro de mim e meus olhos poderiam exteriorizar tais sentimentos e sensações. É uma pontada entre o coração e o estômago, um arrepio diferente que percorre meus braços, meu rosto, meu coração. Queria te ver, quem sabe depois, quem sabe em sonho. Talvez você esteja por aqui, por perto, pertinho de mim.
BCC

                                                                                                                                                                               20.09.2016

Baile de carnaval - II


Ele precisou almoçar com ela no dia seguinte. Não conseguia entender. “Mas você gosta de homem, Carol. Eu sei que você gosta de homem, porra a gente já transou! ”. Ela explicou paciente e didaticamente que gostava de homens e de mulheres, e que, agora amava Bia mais do que tudo. “Mas vocês, tipo, são duas mulheres gostosas, eu pensava que uma sempre era mais macho, sei lá... entende? ”. Carol respirou fundo. “Não, uma não precisa ser mais macho.  A gente se ama, eu sinto muita atração por ela e ela é puta gostosa, não tem nada de errado nisso, pelo contrário, é ótimo! ”.


“Mas vocês já estavam juntas quando estavam na revista? ”. “Não”, ela respondeu. Mentiu, já tinham transado umas vezes antes de Bia se tornar editora chefe da outra revista, mas o percurso até ficarem juntas de fato foi meio tortuoso. Carol amou Bia todos aqueles anos em que ela era seu braço direito, esquerdo, suas mãos, suas palavras, mas não era um amor de mulher, de alma. Sentia atração por sua subordinada, mas nada muito intenso, até um dia... 


Continua...

quinta-feira, 17 de agosto de 2017


Todo momento é um momento de espera
É como se o mundo ficasse suspenso no ar
Cada qual em seu lugar
Na sua imutabilidade aparente
No seu silencio saliente
Na sua respiração freqüente

BCC

05.09.2013

Baile de carnaval - I


Elas estavam deslumbrantes. Era a primeira vez que saiam juntas para ir a uma festa da empresa, na verdade, já tinham ido a um happy hour há um mês mais ou menos, mas “oficialmente”, em um evento envolvendo toda a editora, seria a primeira vez. Estavam um pouco nervosas, não esconderam o romance, mas tampouco saíram espalhando por aí que estavam juntas. Conheciam bem o mundo corporativo e seus dilemas nada éticos.


Pelo menos, um dos big boss já sabia, custou a acreditar, mas não interferiu nem deveria.  Ficou sabendo durante uma brincadeira no happy hour, sua reação foi surreal, ele não conseguia acreditar, foi como se todas suas certezas tivessem ido por água a baixo, não conseguiu falar com elas no dia. Achou que era brincadeira, sabe quando a criança descobre que nada daquilo é real – papai noel, coelho da páscoa, fada do dente... 

Continua...

done/feito


done/ feito
BCC

Feito, feito
Feito como o vento
que passa
que derruba
que maltrata
que ameaça
que bagunça
                         a vida toda

que acarinha
que toca
com amor
com furor
com fervor
numa louca tempestade
em minha pele
meu cabelo
minha boca
meu pudor


done
feito


17.12.2106

Chuva de vento


Chuva de vento
BCC
Tentei experimentar uma chuva de vento
Não deu muito certo

O vento vem da horizontal
Não cai de cima como a chuva

O vento anda deitado
É preguiçoso
É sensual

O mundo é sua cama
As árvores, as pessoas, os animais, seus amantes

Só tem um jeito do vento ficar em pé
Danado como ele é

Dando golpe (em) baixo
em alguma mulher


17.12.2016

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Uma existência para existir

Uma existência para existir
                                                             Por BCC
Dizem que as crises são geradoras de transformações que do caos nascem as estrelas que a calmaria vem depois da tempestade. É verdade, às vezes precisamos de certas sacudidas para entrarmos novamente no prumo. Questionamo-nos sobre tudo, sobre o sentido de estarmos aqui, sobre os porquês, as verdades... E, se, deixarmos, essas questões acabam nos afundando, trazem à tona angustias, receios, medos, inseguranças. Então devemos viver sem pensar? À mercê do tempo e da vida? Não, também isso nos rebaixa tanto (e talvez mais) quanto as questões trabalhadas de maneira equivocada.

É mister que nos questionemos, somos seres pensantes, queremos entender, saber, conhecer, isso faz parte de nós, mas os questionamentos devem ser mais para nos elevar e menos para nos rebaixar. Para tanto, devemos ter plena consciência de que não encontraremos respostas para tudo do jeito que gostaríamos, no Livro dos Espíritos são muitas as vezes que os Espíritos nos alertam de nossas limitações de linguagem e de entendimento, quando Kardec, por exemplo, questiona sobre a possibilidade do homem conhecer o princípio[1] das coisas, eles respondem categoricamente que não o poderemos fazê-lo neste mundo, portanto, não tentemos encontrar todas as respostas, não as encontraremos por agora e corremos o risco de nos sentir machucados, tristes, vazios. Tenhamos paciência e, sobretudo, aceitação e humildade em relação ao mundo e a nós próprios, como disse Paulo com sabedoria: “liquido vos dei, porque sólido não poderias digerir[2]”.

Aceitar nossas limitações não significa que devemos viver sem pensar, pelo contrário, é importante buscar, transformar, não só nas crises, mas nos momentos de alegria, na nossa vida cotidiana. Temos uma existência para existir e não temos como negá-la, existimos hoje como estamos, como necessitamos para crescer, não podemos fugir disso por mais dúvidas e anseios que se tenha, por isso, ao contrário de nos afundarmos em questionamentos revoltosos que nos levam para baixo, podemos sentir gratidão por estar vivo por estar aqui e agora, por termos a oportunidade de fazer o melhor que podemos sempre com muito respeito, compreensão, humildade em relação a nós mesmos e aos outros -“tenha paciência você vai aprender”, disse sabiamente uma palestrante certo dia. 

Trata-se de um processo de crescimento, de aprendizado constante e diário.
Conhecer é condição necessária junto com a vontade para se fazer o Bem, para evoluir – nós renascemos no nosso entendimento constantemente – a realidade pode ser modificada de acordo com a lente do observador, por isso a importância do esforço de se alinhar pensamento e vontade em prol do Bem – do nosso bem, do bem do nosso próximo, do bem do mundo.

Devemos, como pregava Jesus, procurar olhar tudo com olhos de ver, transcender o banal, buscar algo mais no que nos ocorre ou deixa de nos acontecer, para isso contamos com uma importante aliada: a gratidão, ela nos ajuda a enxergar as coisas ocultas, a transcender significados, e assim tornamo-nos cada vez mais gratos por fazer parte de tudo isso – o efeito último torna-se causa primária em uma relação de recursividade. Com a gratidão, o estudo[3] e a reflexão vamos trilhando caminhos que nos aproximam de Deus.

Descartes em Meditações sobre a Filosofia Primeira de 1641 traz: “sou alguma coisa a mais do que eu próprio reconheço e, todas aquelas perfeições que atribuo a Deus, estão de algum modo em mim, em potência...”. Este excerto emociona porque, pensado há tanto tempo, é absolutamente atual, simples e profundo.

Deus é amor, nós temos esse amor em potência, temos tudo divino em potência em nosso Ser. Somos, simplesmente, assim como Deus é. Tudo está em nós, esse ente (essa forma de representação especifica de cada encarnação) está lutando para descobrir a essência que existe nele mesmo – a intervenção é de dentro para fora. Conhece-te a ti mesmo, já dizia o oráculo para Sócrates na Grécia Antiga, o autoconhecimento, porém, é muito trabalhoso, mas vale a pena no sentido de que tudo parte de nós e para nós volta.

A busca parte de nós para nós, é um encontro conosco mesmo – cada transformação que vamos sofrendo é no sentido de nos aproximarmos do que somos –  por isso, a busca e o encontro são em verdade a mesma coisa, nós chegamos a nós mesmos.

E, uma vez que aqui estamos temos o dever e a necessidade de viver, de continuar. “Existo, porque insisto” disse alguém com inspiração, há uma força em nós que nos impulsiona, que nos faz continuar, que nos mantem. E o que é a fé, se não acreditar plenamente na essência divina que somos, na criação de Deus que somos.

Nós fomos criados por amor e para o amor, temos uma destinação, somos o amor em potência ou ainda o amor divino que está em nós em potência. Podemos voar, se nos encontrarmos a nós mesmos deixando Deus ou essa essência divina que somos agir.
Jesus como Espírito evoluído vivenciou plenamente, quando estava homem encarnado entre nós, esse amor, essa ação divina. Mostrou a unidade da essência, a ligação intima com a fonte que nos gerou – vós sois deuses[4], eu e o pai somos um[5] disse, mostrando-nos que temos possibilidades. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus[6] em essência divina, o Ser que cada um é, é semelhante a Deus.

Vivamos, pois, como viajantes valentes buscando a nós mesmos, à nossa transformação diária e constante sem ansiedades e culpas, respeitando o nosso próprio tempo e o ritmo dos outros – cada um de nós vê de uma maneira diferente, todos agimos de acordo com nossa bagagem – cada vez mais com fé, com certeza, serenidade, aceitação, humildade e amor. E, nos lembrando sempre de que o que lançamos no universo volta para nós.



[1] LE questão 17.
[2] Coríntios 3:2
[3]  Muito dessa reflexão nasceu do que estamos filosofando no curso de Filosofia Espírita.
[4] Salmo 82:6; João 10:34
[5] João 10:30
[6] Genesis 1:26-28

A Fonte -IIII


A medida que chegava perto da fonte, mais ela me parecia encantada. Quando estava bem pertinho, olhei suas águas, não era possível ver o fundo. A fonte era feita de um material bem escuro, por isso ao mirar suas águas tinha-se a impressão de que eram escuras e profundamente infinitas.

Senti uma vontade imensurável de entrar, pensei que não teria coragem como das outra vezes, o contrário, porém, aconteceu, antes que pudesse pensar demais, tirei minhas roupas e mergulhei. Não sei quanto tempo fiquei absorta debaixo d’água até que... alguém entrou.

- A senhora está bem?

- Não poderia estar melhor!

- A senhora tem certeza?... É que eu estava passando e vi as roupas no chão, sei lá pensei o pior...

Não sei se acreditei no que ele disse, mas aquela situação não me desagradava, por isso continuei:

- Há muito tempo tenho vontade de entrar e hoje finalmente tive coragem.

- E eu atrapalhando a senhora ... – disse ele sem graça.

- Não! Imagina, pelo contrário, sinto-me uma sereia diante de meu príncipe!

- Ora, até parece, príncipe eu?

Nesta hora, pude ver um sorrisinho maroto naqueles lábios que me enlouqueciam, respondi:

- Sim, porque não, você não quer ser meu príncipe?

Vi em seus olhos que estava um pouco sem jeito, vi também uma mistura de dúvida, desejo e pena. Resolvi ignorar essa última. Aproximei meus lábios dos seus e em poucos minutos o enfeiticei para debaixo das águas.


Não sei quanto tempo ficamos ali, só sei que não poderia viver novamente, não depois de virar sereia.





Fim.
BCC

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A Fonte - II


- Neste caso, – disse ele sem graça – vim entregar isto.

Abriu uma das mãos esticando o braço em minha direção. Sempre gostei de homens com mãos grandes e as dele eram enormes, com unhas curtas e limpas. Uma pequena libélula azul voava na palma de sua mão.

- Meu broche!! Achei que o tivesse perdido.

- Encontrei no fundo da fonte.

- Ora, muito obrigada, não sei como ele foi parar lá.

Peguei o broche, meus dedos roçaram em sua pele, um arrepio tomou-me o corpo todo, há muito não sentia isso.

- De nada, com licença – disse se retirando. Também eu, fui embora do pátio.

No meu quarto, tentei cochilar, mas não consegui, fiquei pensando no passado. Como queria voltar nos anos, ter aquele brilho, aquela chama e beleza de antigamente. Se fosse mais nova com certeza o conquistaria, dormiria com ele. Só não saberia o que fazer na manhã seguinte, era certo que não conseguiria olhar em seus olhos.

Sempre fui medrosa, nunca gostei de encarar os desafios nem mesmo por minhas próprias vontades. Era cara de pau, fazia com que os outros conseguissem para mim aquilo que eu queria. Desta forma, recebia tudo de graça, sem esforço algum. E quando por acaso tivesse que enfrentar alguma situação irremediável, enfrentava de cabeça baixa tentando escapar.

Acho que no fundo sempre menti para mim mesma e para os outros. Escondia por trás da minha beleza e sensualidade, alguém insegura e frágil. Nunca consegui olhar para um homem depois de ter dormido com ele, sentia medo de uma possível rejeição por isso fugia. Não suportaria um não ou uma crítica mais dura. Agora, por sinal, estava me criticando demais, por isso resolvi descer, tomei um copo de leite – mais uma característica da felina que estou me tornando.

Olhei pela janela, lá estava o meu desejo, queria virar uma gata agora, mas não uma que só dorme e bebe leite, queria fazê-lo subir pelas paredes... quanta bobeira. Subi, fui tomar banho e depois esperaria o sono chegar, o que não costumava demorar para acontecer.



Era uma e meia e ainda não havia conseguido dormir, pela primeira vez em anos perdi o sono. A imagem dele não me saía da cabeça. Levantei e fui a janela, vi a fonte, agora já estava cheia e iluminada, linda. Resolvi descer até o pátio.



Continua...

A realidade extrapola a imaginação

Foi me dito que a realidade extrapola a imaginação, e, confesso que isso me tocou de alguma sorte, logo eu, que sou toda imaginação, que ado...