Louis e o amor
As crianças
almoçavam em suas casas e logo seguiam para o pequeno jardim onde José as
aguardava. Todas as tardes, José contava as mais lindas histórias para aquelas
almas tão cheias de vida e de amor, às vezes, alguns adultos se juntavam ao
grupo, e como ficavam também fascinados com tão belas narrativas:
Há muito tempo vivia em uma terra distante
um coração muito dócil e caridoso, um coração que enchia de amor e alegria as
almas que o rodeavam. Esse coração tinha um encantado dono: Louis, juntos
formavam uma ótima dupla, sempre disposta ajudar e felicitar todos que
encontravam.
Louis era um jovem fascinante, tinha olhos
mágicos, quem quer que fosse que se encontrasse com eles ficaria feliz, os
olhos de Louis brilhavam tanto que não havia uma só alma que não gostasse de
contemplá-los.
A perfeição estava para Louis assim com o
sol está para o céu, seu rosto fora delicadamente desenhado por mãos divinas,
todo seu espirito havia recebido um sopro celestial e Louis tratava de espalhá-lo
por onde fosse. Ele era realmente encantador.
Um dia, o jovem passeava por entre as árvores
que rodeavam seu vilarejo quando ouviu um choro repleto de tristeza. Encontrou
um menininho recostado em um tronco, chorava copiosamente abraçando as
perninhas contra o peito e com a cabecinha pousada sobre os joelhos. Louis se
aproximou, a tristeza e o desespero de tal criaturinha o impressionaram.
O pequeno levantou a cabeça, seus olhinhos
azuis estavam encharcados, ele não conseguia parar de soluçar, quando depois de
um tempo, as lágrimas em fim pareciam deixá-lo, uma nova onda de tristeza se
apoderava dele. Inclinava a boca, espremia os olhinhos e choro recomeçava ainda
com mais força. Os sons que produzia mais pareciam pedidos de socorro tamanha a
dor que sentia.
Louis não pôde aguentar, abraçou o pequeno
com muito amor e lhe transmitiu uma gama de energias positivas, os minutos
foram se passando e a calma aos poucos foi tomando o lugar do choro. Soluçava
ainda quando começou a contar o motivo de seu desespero:
- Eu, eu perdi o meu mundo... perdi o meu
mundo – começou a chorar novamente e Louis o abraçou de novo, desta vez, no
entanto, o pequeno retribuiu. Buscou naquele abraço forças para continuar a
viver e as encontrou. Voltou a falar:
- Meus paizinhos e eu sempre passeávamos de
jangada no rio – as lágrimas escorriam de seus olhos – era nosso passeio
preferido. Todas as tardes pegávamos a jangada e íamos rio abaixo. Era tão
delicioso, a gente conversava, ria, admirava a paisagem, comia frutas,
brincava. Tudo tão, tão bom. Hoje, a gente estava lá no rio, estávamos tão
felizes. Papai contou uma coisa engraçada rimos, os três, até doer nossa
barriga. Depois nos abraçamos e dissemos que nos amaríamos para sempre – o
pequeno começa agora a soluçar mais e mais – aí a gente viu uma árvore que
tinha um galho engraçado, desse galho pendia uma única maçã. Então, mamãe disse
para eu ir pegá-la, pulei do barco, nadei um pouquinho e quando saltei para
margem disse que aquela seria a maçã mais gostosa que comeríamos juntos. Subi
na árvore, e quando já estava em cima do galho torto, percebi que a jangada não
estava mais ali. Vi que meus pais estavam perto da descida da cachoeira, vi
papai remando com toda sua força, toda sua vontade contra o destino que os
esperava, vi mamãe chorando e me olhando, seus lábios pronunciavam que me amava
para sempre, e então eles se foram. Meus paizinhos se foram, meu mundo acabou.
O menininho chorava, chorava tanto que era
possível enxergar sua alma, Louis também chorava, os dois se abraçaram, o jovem
disse para a criança que cuidaria dela que eles seriam melhores amigos, disse
também que naquele momento seria difícil aceitar e entender o que havia
acontecido, mas que com o tempo o pequeno perceberia que os três ainda ficariam
juntos e que se eles partiram agora é porque precisava ser assim – os paizinhos
dele haviam cumprido suas missões e aonde quer que estivessem sempre o amariam
e o auxiliariam a também cumprir sua missão e ainda, que, quando chegasse o
momento certo estariam juntos novamente porque o amor que sentiam era grande
demais para acabar.
O menininho aceitou as palavras de Louis
como um esfomeado aceita um pedaço de pão, e assim seguiram seus caminhos.
Não havia uma só
alma que não tivesse sido tocada pela história de José, quando a narrativa
acabara, ficaram todos em absoluto silêncio, ninguém ousou dizer uma só
palavra, pensavam apenas. O próprio José calou e refletiu sobre o que havia
acabado de contar, até que disse:
- Por hoje é só,
agora corram para suas casas, abracem seus pais com muito amor e lhes digam o
quanto os amam!!
Assim que as
crianças absorveram as palavras de José saíram correndo para seus lares. José
também se levantou, ficou um tempo a observar o vazio que ficou ali presente e
se foi. Durante a caminhada, ele se lembrou dos rostinhos das crianças enquanto
o ouviam, de como se sensibilizaram com a história, aproveitou e refletiu um
pouco sobre o que contara. José nunca previa uma história, as palavras
simplesmente iam saindo de sua alma e dando vida a seres encantadores.
A noite já ia se
aproximando quando José chegou a sua casinha no topo da montanha. Ele, apesar
de seu amor por tudo que era da natureza, não apreciava muito a noite. Para
ele, cada anoitecer representava uma pequena morte e cada amanhecer um
nascimento, e, José queria nascer, nascer quantas vezes fosse necessário para
aproveitar tudo o que lhe era dado com tanto amor. Assim que a noite chegava,
ele tratava de fechar a porta e a janela, jamais saia a noite. Até um dia...
Continua