sábado, 15 de abril de 2017

O ladrão que veio do céu - III


Louis e o amor

As crianças almoçavam em suas casas e logo seguiam para o pequeno jardim onde José as aguardava. Todas as tardes, José contava as mais lindas histórias para aquelas almas tão cheias de vida e de amor, às vezes, alguns adultos se juntavam ao grupo, e como ficavam também fascinados com tão belas narrativas:

Há muito tempo vivia em uma terra distante um coração muito dócil e caridoso, um coração que enchia de amor e alegria as almas que o rodeavam. Esse coração tinha um encantado dono: Louis, juntos formavam uma ótima dupla, sempre disposta ajudar e felicitar todos que encontravam.
Louis era um jovem fascinante, tinha olhos mágicos, quem quer que fosse que se encontrasse com eles ficaria feliz, os olhos de Louis brilhavam tanto que não havia uma só alma que não gostasse de contemplá-los.

A perfeição estava para Louis assim com o sol está para o céu, seu rosto fora delicadamente desenhado por mãos divinas, todo seu espirito havia recebido um sopro celestial e Louis tratava de espalhá-lo por onde fosse. Ele era realmente encantador.

Um dia, o jovem passeava por entre as árvores que rodeavam seu vilarejo quando ouviu um choro repleto de tristeza. Encontrou um menininho recostado em um tronco, chorava copiosamente abraçando as perninhas contra o peito e com a cabecinha pousada sobre os joelhos. Louis se aproximou, a tristeza e o desespero de tal criaturinha o impressionaram.

O pequeno levantou a cabeça, seus olhinhos azuis estavam encharcados, ele não conseguia parar de soluçar, quando depois de um tempo, as lágrimas em fim pareciam deixá-lo, uma nova onda de tristeza se apoderava dele. Inclinava a boca, espremia os olhinhos e choro recomeçava ainda com mais força. Os sons que produzia mais pareciam pedidos de socorro tamanha a dor que sentia.

Louis não pôde aguentar, abraçou o pequeno com muito amor e lhe transmitiu uma gama de energias positivas, os minutos foram se passando e a calma aos poucos foi tomando o lugar do choro. Soluçava ainda quando começou a contar o motivo de seu desespero:

- Eu, eu perdi o meu mundo... perdi o meu mundo – começou a chorar novamente e Louis o abraçou de novo, desta vez, no entanto, o pequeno retribuiu. Buscou naquele abraço forças para continuar a viver e as encontrou. Voltou a falar:

- Meus paizinhos e eu sempre passeávamos de jangada no rio – as lágrimas escorriam de seus olhos – era nosso passeio preferido. Todas as tardes pegávamos a jangada e íamos rio abaixo. Era tão delicioso, a gente conversava, ria, admirava a paisagem, comia frutas, brincava. Tudo tão, tão bom. Hoje, a gente estava lá no rio, estávamos tão felizes. Papai contou uma coisa engraçada rimos, os três, até doer nossa barriga. Depois nos abraçamos e dissemos que nos amaríamos para sempre – o pequeno começa agora a soluçar mais e mais – aí a gente viu uma árvore que tinha um galho engraçado, desse galho pendia uma única maçã. Então, mamãe disse para eu ir pegá-la, pulei do barco, nadei um pouquinho e quando saltei para margem disse que aquela seria a maçã mais gostosa que comeríamos juntos. Subi na árvore, e quando já estava em cima do galho torto, percebi que a jangada não estava mais ali. Vi que meus pais estavam perto da descida da cachoeira, vi papai remando com toda sua força, toda sua vontade contra o destino que os esperava, vi mamãe chorando e me olhando, seus lábios pronunciavam que me amava para sempre, e então eles se foram. Meus paizinhos se foram, meu mundo acabou.

O menininho chorava, chorava tanto que era possível enxergar sua alma, Louis também chorava, os dois se abraçaram, o jovem disse para a criança que cuidaria dela que eles seriam melhores amigos, disse também que naquele momento seria difícil aceitar e entender o que havia acontecido, mas que com o tempo o pequeno perceberia que os três ainda ficariam juntos e que se eles partiram agora é porque precisava ser assim – os paizinhos dele haviam cumprido suas missões e aonde quer que estivessem sempre o amariam e o auxiliariam a também cumprir sua missão e ainda, que, quando chegasse o momento certo estariam juntos novamente porque o amor que sentiam era grande demais para acabar.

O menininho aceitou as palavras de Louis como um esfomeado aceita um pedaço de pão, e assim seguiram seus caminhos.

Não havia uma só alma que não tivesse sido tocada pela história de José, quando a narrativa acabara, ficaram todos em absoluto silêncio, ninguém ousou dizer uma só palavra, pensavam apenas. O próprio José calou e refletiu sobre o que havia acabado de contar, até que disse:

- Por hoje é só, agora corram para suas casas, abracem seus pais com muito amor e lhes digam o quanto os amam!!

Assim que as crianças absorveram as palavras de José saíram correndo para seus lares. José também se levantou, ficou um tempo a observar o vazio que ficou ali presente e se foi. Durante a caminhada, ele se lembrou dos rostinhos das crianças enquanto o ouviam, de como se sensibilizaram com a história, aproveitou e refletiu um pouco sobre o que contara. José nunca previa uma história, as palavras simplesmente iam saindo de sua alma e dando vida a seres encantadores.


A noite já ia se aproximando quando José chegou a sua casinha no topo da montanha. Ele, apesar de seu amor por tudo que era da natureza, não apreciava muito a noite. Para ele, cada anoitecer representava uma pequena morte e cada amanhecer um nascimento, e, José queria nascer, nascer quantas vezes fosse necessário para aproveitar tudo o que lhe era dado com tanto amor. Assim que a noite chegava, ele tratava de fechar a porta e a janela, jamais saia a noite. Até um dia...


Continua

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