O roubo
Um tremor tomava-lhe o corpo, lágrimas
pendiam-lhe dos olhos. Estava só, só na escuridão da noite, sobre sua cabeça,
uma ou duas estrelas, a lua dormia como todo o resto, o lago estava um breu,
não havia luz alguma para que ele pudesse refletir, as árvores ao seu redor pareciam
mortas, não se ouvia um ruído. Estava sozinho, no silêncio, encolhido entre as
árvores e o mato sentia seus ossos congelarem, seus olhos ardiam profundamente,
não conseguia parar de chorar. Precisava ir embora, não podia mais ficar ali,
não podia mais sentir esse imenso vazio, tinha de ir, não havia outro jeito,
estava em um mundo que não lhe pertencia. Levantou, caminhou até o lago, as
folhas estalaram sob seus pés, parou, olhou para cima, não sabia o que iria
encontrar, se continuaria em outro lugar. As lágrimas agora caiam com maior
intensidade, sentiu um arrepio, um mal-estar que vinha de dentro um calor frio
que lhe tomava por inteiro, queria se livrar daquilo, não sabia como, não sabia
de nada, apenas que tinha de sair que tinha de ir embora...
Olhou para o lago e sentiu medo,
medo de encontrar tudo escuro, de ir para um lugar pior, de não conseguir sanar
suas dores, sua angústia, medo de não saber, de não poder ver, de não
acreditar. Deu um passo, seus pés tocaram a água gelada, o frio congelante
subiu por todo seu corpo, deu mais um passo, e outros até que a água lhe
chegasse na cintura. A essa altura já não conseguia sentir sua pele, tremia por
dentro e por fora, seus lábios estavam roxos, não conseguiam mais se encontrar.
Respirou profundamente, sentiu o ar gélido passar por suas narinas chegando a
seus pulmões, expirou – essa seria a última vez que faria isso. Mergulhou, o
frio era extremo, aos poucos, porém, seu corpo se acostumou, o ar acabara, seus
instintos agora o impulsionavam à superfície, não queria ir, não iria, lutou,
lutou consigo mesmo, lutou pela morte.
Continua
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