segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

(meu) beijo da Ana


(meu) beijo da Ana

Ela é linda e sabe disso, é de uma energia estonteante, que faz cambalear o mais forte dos corações, sua voz grave escorre em cada pedacinho de meu ser, me arrepiando os dourados pelos que cobrem sutilmente o corpo, quando a vejo, quando a ouço, a quero pra mim.

Fui, pois, a ouvir cantar, fui vê-la no lugar em que mais brilha e se sente a vontade, e, que linda ela, lá em cima, que linda sua voz, seus olhos se fechando a cada tom mais grave, sua boca que engolia qualquer dúvida e trazia amor por entre timbres e tons.

Fui, é verdade, engolida por ela, me voltou a imaginação de anos atrás quando menina moça não sabia o que queria, mas inconscientemente talvez já a quisesse. E essa imaginação, ah tão conhecida imaginação me levou de volta à ela, de um jeito diferente agora, mais mulher, dona de mim e de meus desejos, mas também imatura talvez até mesmo por esse desejo ... imaginei mesmo assim, não pude evitar.

E assim foi, na hora final, não sei como a alcancei (uma das vantagens de imaginar, não precisar saber como tudo ocorre), continuando, a alcancei no meio de um turbilhão de fãs apaixonadas que estendiam as mãos e gritavam em sua direção, tiravam fotos, davam presentes, eu, que não sei como cheguei ali, porque não sei estar em meio a tanta gente, estendo minha mão meio sem fé, mas com total confiança – contraditória como qualquer ser humano – e assim de repente a vejo pegar o envelope preto que segurava quase desesperada no alto da multidão, ela o pega, parece ler rapidamente e o entrega para um moço de sua equipe.

Meu coração relaxa por um milésimo de segundo, o ar volta aos meus pulmões e meus ombros se abaixam num sinal de alívio, saio dali, me afasto do afeto entusiasmado daquelas que a amam tanto de uma maneira que nunca entendi.

Minha parte foi feita, quase que como uma missão impossível, para mim, sendo quem sou, de fato, era dificílimo entrar ali no gargarejo com tanta gente. Mas fiz – consegui entregar o envelope que em letras prateadas garrafais diziam: me deixa te dar um abraço apertado? Com o número do meu telefone discretamente posicionado no canto inferior direito.

Não sei se ela leu, tão pouco se iria atender ao meu pedido. Dentro do envelope meu texto, de outros carnavais, de outras imaginações, mas tão real e poético, tão simbólico e sutil, tão meu ainda hoje. Queria muito que ela o lesse, aqui nessa história e na outra da vida dita real. A(h),C! ...

De qualquer forma, saí dali aliviada, fiquei mais afastada, não muito longe, a vendo cantar ainda a última música que acompanhava com os lábios apenas, meu coração de tranquilo foi para o ápice da ansiedade, será que ela leu meu pedido imediato e de carinho, será que me atenderia...

Os agradecimentos foram feitos, ela sai, eles saem, todos estão saindo, eu, não. Eu fico, esperançosa, ansiosa, iludida, mas fico. Fico com o celular em punho, até que surge uma mensagem, uns dez minutos depois da dispersão, aqui é fulano quer vir no camarim dela dar o abraço? Minha mente se cala por um instante, depois triunfante berra em meus ouvidos que como todo meu corpo parecem em síncope – deu certo!!

Respondo prontamente acordada por minha cabeça que só quer a ver, logo, rápido, o mais depressa possível. Ele aparece e me conduz ao camarim, chego e há uma pequena fila de fãs, umas quatro ou cinco meninas embevecidas, choram, pedem autógrafos e tiram foto, dizem que a amam.

Eu espero. Observo, porque faz parte da minha natureza observar, observo as meninas, o lugar, as pessoas ali presentes, e, sobretudo, ela que atende as meninas com simpatia e decoro, faz parte de seu trabalho, sim, aquilo também é trabalho. O meu abraço também seria trabalho?

As meninas vão embora, uma a uma, fico eu em sua presença desconcertante, chego perto dela sorrindo, porque é impossível não sorrir, ela sorri discreta, vamos tirar uma foto, diz educada, respondo , quase sem querer, sim a foto, mas quero um abraço bem apertado.

Você é a menina do abraço, ela diz, como se me conhecesse e meu coração se enche de alegria. Sou eu. Ela abre os braços e eu entro neles, envolvo-a com todo meu afeto, Obrigada digo, Obrigada por você existir, por ser quem é e pela energia tão louca que emana. Ela me aperta um pouco mais, depois me afasta dela, olha para mim com aqueles olhos que me desnudam a alma, Obrigada pelas palavras e pelo carinho diz sorrindo e sinto que de alguma forma, pequena que seja, o que eu disse a tocou.

De meus olhos saem lágrimas, porque sou assim, choro como manifestação da minha existência, choro com coisas lindas, e, ela é tão linda. Ela olha pra mim, de novo, tá tudo bem diz baixo, como se pudesse falar baixo com aquela voz – e pode, como pode.
Respondo que é muito louco aquilo tudo, o que eu sinto por ela, porque não sei ser fã, embora esteja sendo, eu só gosto dela, sinto um carinho e uma atração imensos por ela, pelo ser que ela é, mesmo não a conhecendo e isso é tão doido. Digo rapidamente que ela foi a primeira a povoar minha imaginação, a despertar desejos que eu não conhecia, a desabrochar a mulher que hoje sou e a agradeço por isso.

Ela me olha surpresa, sorri com os olhos e com a boca, que boca, que olhos... Fico feliz que tenha te ajudado mesmo sem saber, diz finalmente. Depois, volta com sua educação e me lembra da foto, dou o celular para alguém da produção e me posiciono a seu lado, ela sorri seu sorriso habitual, eu sorrio, olhando-a.

Me entregam o celular, ela me olha e diz de um jeito carinhoso, mais um abraço, pergunta, já me abraçando, respondo me deixando envolver por seus braços, sentindo seu cheiro, apertando com meu coração de menina, seu coração de mulher. Obrigada digo mais uma vez em seu ouvido, sinto sua respiração e essa é a melhor sensação.

Ela se afasta devagar, ficando ainda muito próxima, nossos rostos estão pertíssimo, ela pega em meu queixo e encosta seus lábios nos meus, eu não posso acreditar, não sei mais onde estou, quem sou, só sinto meu coração bater tão rápido como se quisesse ele mesmo sair pela minha boca e encostar seus lábios nos dela. Não, coração, são os meus lábios que recebem o beijo dela.

Ficamos assim por um longo tempo que parece breve demais, quando ela me solta, sorrio e ela sorri aquele sorriso de mulher, que sabe bem o que faz. Uau digo involuntariamente, gostou pergunta sacana, e meus lábios vermelhos, respondem quase sem querer, sabendo muito bem o que querem. Sim, posso retribuir?.

Sorrio triunfante, também sou mulher, também sei o que quero.

Você precisa ir, menina. Ela diz, me transformando em menina de novo. O produtor já me conduz apressado para a porta.

Quando ela diz, espera e estende sua mão em minha direção , volto meu corpo para onde ela está, entrego minha mão a ela, ela a pega com força e suavidade, me puxa para si, diz baixinho sorrindo aquele sorriso sacana, deixa ver se eu te ensinei bem na sua imaginação.

Sorrio, com a boca, com os olhos, com todo meu corpo, é claro que ensinou, penso, mas não digo nada, apenas aproximo minha mão de seu rosto, tiro um fio de cabelo delicadamente, e, vou devagar me achegando a ela, porque a vida é breve e o amor mais breve ainda. Encosto meus lábios nos seus, beijo pequeno e devagar, sorrio olhando para ela, ela me olha de volta, a beijo de novo de leve, repetidas vezes, sutil e deliciosamente, até que meus lábios se abrem e minha língua encontra a dela, o encaixe perfeito se dá, vamos e voltamos num movimento urgente e quente, nada mais existe. Meus dedos passeiam por sua pele, seguro seu rosto com força, ela segura o meu, invade meus cabelos de forma selvagem e se deixa ficar. Ficamos por uma pequena eternidade ali, juntas pegando fogo.

Quando nos afastamos, sorrimos. Tchau menina, ela diz, me desejando como mulher. Respondo dizendo obrigada, e recomendo que leia o texto do envelope, digo que acho que ela vai gostar. Poeta que sou nunca me esqueço do texto.

Ela faz que sim com a cabeça sorrindo e não a vejo mais.

Poderia ter continuado com a imaginação, confesso que até quis, mas não pude, por respeito a mim e a ela – tenho dessas coisas. Chega, por ora, de imaginar.
BCC 
02.12.2019

A realidade extrapola a imaginação

Foi me dito que a realidade extrapola a imaginação, e, confesso que isso me tocou de alguma sorte, logo eu, que sou toda imaginação, que ado...