sexta-feira, 29 de março de 2024

A realidade extrapola a imaginação

Foi me dito que a realidade extrapola a imaginação, e, confesso que isso me tocou de alguma sorte, logo eu, que sou toda imaginação, que adoro pensar e escrever histórias, que vejo poesia em toda parte, que olho o mundo com olhos encantados e crio a partir dele, com ele, para além dele. Mas a vida fala mais alto diz uma voz em meu interior já faz um tempo, a vida, aqui, não poderia quiçá representar a tal da realidade, essa realidade que extrapola a imaginação?

Talvez sim, não há mesmo como negar a urgência da vida, do real, do tempo presente, que também é passado e futuro de forma contínua. Não há como negar o ser, o ser que pretende ser, e assim o é hoje, amanhã e ontem.

Para conhecer a si e ao mundo é preciso viver (e também imaginar – insisto,  nem tudo é passível de ser vivido, nem tudo é necessário de ser vivido), mas ainda assim viver é preciso (e, arrisco-me aqui a contrariar poeticamente um dos meus poetas preferidos, que Pessoa me perdoe), mas sim, viver é preciso para se conhecer, para se tecer redes de significados e relações que façam jus a quem somos e a quem queremos ser, e até mesmo para imaginar é preciso viver o real.

Para criar mundos, é preciso estar em um mundo, para questionar a realidade, é preciso fazer parte dela, para propor mudanças e projetos, é preciso viver.

Então sim, sinto-me convencida de que, de alguma forma, a realidade extrapola a imaginação, e isso não é um problema necessariamente, pois, apesar de tudo, é tão lindo viver.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Vidas passadas



Eu não pude deixar de olhar para você, foi num ínfimo de segundo que nossos olhares se cruzaram e eu me vi ao invés de te ver, vi o que seus olhos viram, me vi sorrindo de leve, com olhos cheios de recém morridas lágrimas, saí acabada do cinema, sabia que seria assim, algo semelhante à isso, sabia a dor que ia sofrer e fui mesmo assim, fui porque precisava ver outra história como a minha, outras vidas que estando juntas não estão, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência, embora as histórias sejam muito diferentes, há um passarinho que pousa num galho em comum, há todo esse sentimento gigante que não se sabe o que fazer, um amor que fica no ar, meio perdido, sem rumo, mas que ainda assim é amor, e para sempre vai ser, não para essa vida, é verdade, para um futuro ou do passado, quem sabe... saber é um verbo tão difícil quanto amar, embora amar, ah, amar em si é fácil, o difícil é saber, é o não saber.

Pois assim sem saber, te vi e precisei te olhar, uma questão de respeito talvez, um respeito entre almas, quando passei mais cedo, você dormia na marquise da loja, agora de noite, você estava deitado no mesmo lugar, mas acordado, estava como relaxado, não fosse a crueldade do mundo, diria que estava tranquilo, e foi ali que te olhei, te olhei porque não podia te ignorar, te olhei porque você é, assim como eu sou, e você também me olhou, mas com as lágrimas recém caídas, com o coração em oceano, você me fez ver a mim, me foi espelho, e houve ali algo para mim, te abençoei, porque gosto de abençoar, porque eu mesma precisava de bênçãos. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Sacramento, domingo cedinho, quarto de hotel.

Miau, miau miau.

Onde está o gatinho que tanto mia? 

O que será que ele quer?

Abro parcialmente a janela, a luz entra, mas não o consigo ver.

Miau, miau, miau - os miados continuam.

Abro a janela inteira, o procurando, olho para baixo e lá está ele, ou será ela?

Ele mia olhando para mim, olhos verdes claros brilhantes, corpinho laranja, parece querer se achegar, mas como?

Da onde ele vem? Será que ele é do hotel? Será que ele quer entrar?

Saio do quarto para ver a porta do lado que dá para o estacionamento onde ele está, a porta está trancada, mas o que é uma porta fechada, se há uma janela aberta?!

Assim que entro no quarto de volta, ele entra pela janela - surpresa! - ele conseguiu pular, é claro, é um gato e gatos saltam, gatos entram onde querem.

Ele entrou em meu coração.


O que eu faço? Pega ele e coloca para fora diz minha colega do banheiro, sem dar muita atenção ao incrível visitante inesperado.

Chego pertinho dele e faço carinho, não sei se posso pegá-lo, não tenho tanta intimidade com gatos, já fui meia-mãe de Caetano e sinto saudades dele, será que eu sei?

Ele se derrete em meu carinho, vira a cabecinha, inclina as orelhinhas, ronrona, ah, meu coração se alegra, ele gosta de meu carinho, ronrona e entra ainda mais em meu coração.

O pego no colo com cuidado, ele deixa, o levo ainda de camisola até a recepção, torcendo para que ele seja do hotel, para que fique, também aqui e não só em meu coração.

O dono do hotel me olha espantado, não ele não é daqui, é gato de rua, cuidado, diz ele. Pode colocar ali fora, deve ser da vizinhança, completa.

O coloco na porta delicadamente, mas gatos são gatos, entram onde querem entrar, ele, lógico, entra de novo no hotel, o dono vai atrás, o gatinho indiferente a de quem é o prédio, corre pelos corredores, entra e sai de meu quarto antes que eu volte e vai embora - não o vejo mais.

Mas ainda assim, ele ficou, ficou em meu coração.

17.07.2022

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Sobre o que se vê e o que não se vê





São escolhas, a vida é feita de escolhas, o olhar é feito de escolhas.

Impossível ver tudo, necessário não ver.

Quando num quadro imersivo, numa história contada por todos os lados, ela escolheu se sentar, escolheu olhar para o lado de cá, deu as costas para o lado de lá.

Viu histórias que eu não vi, e, eu, as que ela não podia ver.

O que é a vida senão feita de histórias, de imagens, músicas, impressões que nos chegam e nos tocam, ou que passam por nós sem nunca nos chegar?

Eu vi o tema mudar, vi as palavras que amo tanto, e que me fazem tanto sentido - apresentar, poetizar as pinturas e a música que viriam - ela, não, não viu as palavras, não viu as pinturas que vi, mas viu outras que eu não vi.

E nesse vai e vem de pinturas, de músicas, de escolhas, cada uma viveu o que tinha de viver, viu o santo, o Jesus que tinha de ver, se encantou e foi tocada pelos anjos dos céus, que são muitos, como a arte, como a vida é.

01.07.2022

Exposição portinari

sábado, 26 de março de 2022

Eloísa


O mundo ficou novo de novo.
Nasceu Elô.
Nasceu mais uma vida neste mundão de amor.
Nasceu o amor mais uma vez.

Quando nasce um bebê, nasce um amor maior do mundo.
Nasce um mundo todo de amor.
Todo mundo nasce em amor.
E Elô nasceu.
Hoje.
Uma semana depois das bênçãos de amor.
Nasceu amando e sendo amada.
Nasceu abençoada.

Venha Elô, bem-vinda,
Venha Elô amada,
Ser feliz e amar,
Venha Elô viver essa vida linda,
Venha Elô.


Que o amor guie todos os teus passos.

Com carinho,
Bru

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Professora, o sol!!

Porque apesar dos adultos, as crianças existem.

Porque apesar dos adultos, as crianças resistem.

Porque apesar dos adultos, as crianças poetizam.

As crianças brincam, abraçam, choram, limpam as lágrimas e continuam. 
As crianças brigam, e se perdoam com a mesma facilidade, ajudam, e amam, porque sabem que ajudar e amar é tudo o que existe, o que deveria existir.

Bernardo viu o sol pela janela na hora da refeição, o sol dourado, tímido iluminou de repente, depois de uma tarde quente e chuvosa, todo o ambiente.
Bernardo me olhou com aqueles olhos expressivos que carregam o mundo todo e gritou de seu lugar, do seu jeitinho, com sua fala cada vez mais desenvolvida:
Professora, o sol!
E a alegria que estava em seu rosto e em seu coração, iluminou todo ambiente ainda mais que o astro rei,  e iluminou também meu coração.

Que a gente olhe para janela, olhe para nossos corações e veja o sol de Bernardo.

A realidade extrapola a imaginação

Foi me dito que a realidade extrapola a imaginação, e, confesso que isso me tocou de alguma sorte, logo eu, que sou toda imaginação, que ado...