o afeto é revolucionário
Sou professora, logo otimista
Maria Victoria Benevides
Neste
semestre me vi inserida em contextos de discussões, pensamentos e diálogos que
muito me tocaram, mexeram comigo não só em um nível acadêmico, mas também numa
perspectiva mais profunda, íntima mesmo, me vi, em duas disciplinas, conversando
com autoras e autores dos mais diversos tempos e lugares, mas que traziam em
comum, o sentimento de necessidade, necessidade de entender, compreender,
denunciar, transformar essa humanidade que somos e não somos.
Vi
mais de perto e pude sentir, ainda que numa perspectiva epistemológica que a
mim me tocou também a alma, o quão cruel essa humanidade foi, pode ser e ainda
é, quantas camadas nos formam e nos escapam ao mesmo tempo, quantos crimes
contra nós mesmos foram e ainda são cometidos.
Vi
também e senti o quão potentes nós também fomos, somos e podemos ser, quanta
luta foi enfrentada e ainda é, como a arte, a escrita, a educação, a academia,
as pesquisas, as imagens, as memórias podem nos trazer de volta, de volta de
uma humanidade perdida, de volta à uma humanidade que toca o real e que
questiona, que luta, que aprende, que ama – naquilo que o amor pode ser e é o
mais revolucionário – o poder de nos permitir ver e ser seres humanos dignos de
respeito uns para com os outros, para com a vida de uns e de outros, de todos e
de cada um.
Os
textos propostos me fizeram arder por dentro de alguma forma como nos diz Didi-Huberman[1],
arder como as imagens quando tocam o real, as discussões em sala, as imagens projetadas,
o acolhimento e a disponibilidade da professora Fabi, a aula magna com a professora Maria Victoria
Benevides, os cravos recebidos, a caminhada ao Monumento aos mortos e
desaparecidos da USP, as visitas, sobretudo, ao bairro da Liberdade, que me
tocou tanto, que após essa experiência quaisquer outras tentativas de reflexões
para o trabalho final falharam categoricamente. Precisava escrever sobre essa
experiência, como necessidade poética e política, no sentido de urgência de
vida como nos brinda Rilke em suas Cartas a um jovem poeta.
Todas
essas experiências do semestre me foram muito significativas, me fizeram
refletir, me causaram dor, indignação por um lado, e ao mesmo tempo, visto que
a contradição é o sobrenome da humanidade, me causaram também esperança, uma
genuína, embora por vezes cansada, vontade de continuar, de estudar, pesquisar,
escrever mais, de viver lutando as lutas cotidianas com poesia e amor (pois que
essas são minhas principais armas), de continuar questionando, de continuar
buscando ser melhor, viver melhor, com quem está ao meu lado no dia a dia, a
revolução é viral, me disseram, é no miúdo das relações ordinárias que as
grandes transformações se iniciam, é no cotidiano que tocamos o real, que o
afeto é revolucionário, e é aí, precisamente, que está a minha revolução.
À professora Fabiana
Jardim, minha gratidão.
Bruna Cadenas Cardoso
Junho de 2024
[1]
Didi-Huberman, Georges. Quando as imagens tocam o real. Pós, Belo Horizonte,
v.2, n.4, pp.204-
219, nov. 2012.
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