quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A Fonte - II


- Neste caso, – disse ele sem graça – vim entregar isto.

Abriu uma das mãos esticando o braço em minha direção. Sempre gostei de homens com mãos grandes e as dele eram enormes, com unhas curtas e limpas. Uma pequena libélula azul voava na palma de sua mão.

- Meu broche!! Achei que o tivesse perdido.

- Encontrei no fundo da fonte.

- Ora, muito obrigada, não sei como ele foi parar lá.

Peguei o broche, meus dedos roçaram em sua pele, um arrepio tomou-me o corpo todo, há muito não sentia isso.

- De nada, com licença – disse se retirando. Também eu, fui embora do pátio.

No meu quarto, tentei cochilar, mas não consegui, fiquei pensando no passado. Como queria voltar nos anos, ter aquele brilho, aquela chama e beleza de antigamente. Se fosse mais nova com certeza o conquistaria, dormiria com ele. Só não saberia o que fazer na manhã seguinte, era certo que não conseguiria olhar em seus olhos.

Sempre fui medrosa, nunca gostei de encarar os desafios nem mesmo por minhas próprias vontades. Era cara de pau, fazia com que os outros conseguissem para mim aquilo que eu queria. Desta forma, recebia tudo de graça, sem esforço algum. E quando por acaso tivesse que enfrentar alguma situação irremediável, enfrentava de cabeça baixa tentando escapar.

Acho que no fundo sempre menti para mim mesma e para os outros. Escondia por trás da minha beleza e sensualidade, alguém insegura e frágil. Nunca consegui olhar para um homem depois de ter dormido com ele, sentia medo de uma possível rejeição por isso fugia. Não suportaria um não ou uma crítica mais dura. Agora, por sinal, estava me criticando demais, por isso resolvi descer, tomei um copo de leite – mais uma característica da felina que estou me tornando.

Olhei pela janela, lá estava o meu desejo, queria virar uma gata agora, mas não uma que só dorme e bebe leite, queria fazê-lo subir pelas paredes... quanta bobeira. Subi, fui tomar banho e depois esperaria o sono chegar, o que não costumava demorar para acontecer.



Era uma e meia e ainda não havia conseguido dormir, pela primeira vez em anos perdi o sono. A imagem dele não me saía da cabeça. Levantei e fui a janela, vi a fonte, agora já estava cheia e iluminada, linda. Resolvi descer até o pátio.



Continua...

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