Uma
existência para existir
Por BCC
Dizem que
as crises são geradoras de transformações que do caos nascem as estrelas que a
calmaria vem depois da tempestade. É verdade, às vezes precisamos de certas
sacudidas para entrarmos novamente no prumo. Questionamo-nos sobre tudo, sobre
o sentido de estarmos aqui, sobre os porquês, as verdades... E, se, deixarmos,
essas questões acabam nos afundando, trazem à tona angustias, receios, medos,
inseguranças. Então devemos viver sem pensar? À mercê do tempo e da vida? Não, também
isso nos rebaixa tanto (e talvez mais) quanto as questões trabalhadas de
maneira equivocada.
É mister
que nos questionemos, somos seres pensantes, queremos entender, saber,
conhecer, isso faz parte de nós, mas os questionamentos devem ser mais para nos
elevar e menos para nos rebaixar. Para tanto, devemos ter plena consciência de
que não encontraremos respostas para tudo do jeito que gostaríamos, no Livro
dos Espíritos são muitas as vezes que os Espíritos nos alertam de nossas
limitações de linguagem e de entendimento, quando Kardec, por exemplo,
questiona sobre a possibilidade do homem conhecer o princípio[1] das coisas, eles respondem
categoricamente que não o poderemos fazê-lo neste mundo, portanto, não tentemos
encontrar todas as respostas, não as encontraremos por agora e corremos o risco
de nos sentir machucados, tristes, vazios. Tenhamos paciência e, sobretudo,
aceitação e humildade em relação ao mundo e a nós próprios, como disse Paulo com
sabedoria: “liquido vos dei, porque sólido não poderias digerir[2]”.
Aceitar nossas limitações não significa que
devemos viver sem pensar, pelo contrário, é importante buscar, transformar, não
só nas crises, mas nos momentos de alegria, na nossa vida cotidiana. Temos uma
existência para existir e não temos como negá-la, existimos hoje como estamos,
como necessitamos para crescer, não podemos fugir disso por mais dúvidas e
anseios que se tenha, por isso, ao contrário de nos afundarmos em
questionamentos revoltosos que nos levam para baixo, podemos sentir gratidão
por estar vivo por estar aqui e agora, por termos a oportunidade de fazer o
melhor que podemos sempre com muito respeito, compreensão, humildade em relação
a nós mesmos e aos outros -“tenha paciência você vai aprender”, disse
sabiamente uma palestrante certo dia.
Trata-se de um processo de crescimento,
de aprendizado constante e diário.
Conhecer
é condição necessária junto com a vontade para se fazer o Bem, para evoluir –
nós renascemos no nosso entendimento constantemente – a realidade pode ser
modificada de acordo com a lente do observador, por isso a importância do
esforço de se alinhar pensamento e vontade em prol do Bem – do nosso bem, do
bem do nosso próximo, do bem do mundo.
Devemos,
como pregava Jesus, procurar olhar tudo com olhos de ver, transcender o banal, buscar
algo mais no que nos ocorre ou deixa de nos acontecer, para isso contamos com
uma importante aliada: a gratidão, ela nos ajuda a enxergar as coisas ocultas, a
transcender significados, e assim tornamo-nos cada vez mais gratos por fazer
parte de tudo isso – o efeito último torna-se causa primária em uma relação de
recursividade. Com a gratidão, o estudo[3] e a reflexão vamos
trilhando caminhos que nos aproximam de Deus.
Descartes
em Meditações sobre a Filosofia Primeira de
1641 traz: “sou alguma coisa a mais
do que eu próprio reconheço e, todas aquelas perfeições que atribuo a Deus,
estão de algum modo em mim, em potência...”. Este excerto emociona porque,
pensado há tanto tempo, é absolutamente atual, simples e profundo.
Deus é
amor, nós temos esse amor em potência, temos tudo divino em potência em nosso
Ser. Somos, simplesmente, assim como Deus é. Tudo está em nós, esse ente (essa
forma de representação especifica de cada encarnação) está lutando para
descobrir a essência que existe nele mesmo – a intervenção é de dentro para
fora. Conhece-te a ti mesmo, já dizia o oráculo para Sócrates na Grécia Antiga,
o autoconhecimento, porém, é muito trabalhoso, mas vale a pena no sentido de que
tudo parte de nós e para nós volta.
A busca parte de nós para nós,
é um encontro conosco mesmo – cada transformação que vamos sofrendo é no
sentido de nos aproximarmos do que somos – por isso, a busca e o encontro são em verdade
a mesma coisa, nós chegamos a nós mesmos.
E, uma
vez que aqui estamos temos o dever e a necessidade de viver, de continuar. “Existo,
porque insisto” disse alguém com inspiração, há uma força em nós que nos
impulsiona, que nos faz continuar, que nos mantem. E o que é a fé, se não
acreditar plenamente na essência divina que somos, na criação de Deus que somos.
Nós
fomos criados por amor e para o amor, temos uma destinação, somos o amor em
potência ou ainda o amor divino que está em nós em potência. Podemos voar, se
nos encontrarmos a nós mesmos deixando Deus ou essa essência divina que somos
agir.
Jesus
como Espírito evoluído vivenciou plenamente, quando estava homem encarnado
entre nós, esse amor, essa ação divina. Mostrou a unidade da essência, a ligação
intima com a fonte que nos gerou – vós
sois deuses[4],
eu e o pai somos um[5] disse, mostrando-nos que
temos possibilidades. Fomos criados à
imagem e semelhança de Deus[6] em essência divina, o Ser que cada um é, é semelhante a Deus.
Vivamos,
pois, como viajantes valentes buscando a nós mesmos, à nossa transformação
diária e constante sem ansiedades e culpas, respeitando o nosso próprio tempo e
o ritmo dos outros – cada um de nós vê de uma maneira diferente, todos agimos
de acordo com nossa bagagem – cada vez mais com fé, com certeza, serenidade,
aceitação, humildade e amor. E, nos lembrando sempre de que o que lançamos no
universo volta para nós.
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