quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Rosas - parte IV


Enquanto visitava suas rosas, notou que uma estava machucada. Uma de suas pétalas estava fraca e parcialmente rachada. Aquela rachadura doeu nele, não entendia como aquilo havia acontecido, ninguém sabia da existência delas. Como ela havia se machucado? Ficou decepcionado.

Dali para frente, no entanto, só teve decepções. Primeiro uma, depois outra, todas aos poucos foram caminhando para o inevitável. Ele não compreendia, não queria compreender. Será que faltava amor? 

Mas como? Se as amava mais do que tudo. O sol também só as ajudava, vinha quando necessário e mandava chuva quando tinham sede.

Nesses dias, ele ficou angustiado, triste, já não apreciava mais a beleza da vida, não podia compreender que tudo estava perfeitamente certo, não enxergava que a morte está no destino de todos os seres e que com ela há também o renascimento – de quem fica e de quem vai.


E aos poucos todas elas foram. Aquele cantinho que antes era um ninho de amor e alegria, agora tornara-se um túmulo de tristeza e descrença. Foi ainda por alguns dias até lá, olhava para o lugar em que elas ficavam e chorava, até que parou de ir.

Coincidência ou não, a mulher saiu do emprego algum tempo depois. Tinham então de decidir se ficariam ou partiriam da cidadezinha. Resolveram partir.

Ali, ele havia descoberto o verdadeiro amor pela vida, havia presenciado a mais singela beleza e a inatingível perfeição, ali também sofreu a maior decepção de todas, sentiu na pele a efemeridade do mundo e carregou na alma a tristeza da incompreensão.

Foi embora, foi viver sua vida sem a magia daquele lugar, sem o encantamento que aprendera a sentir. Os anos passaram, alguns bons outros nem tanto, mas nenhum mágico como aquele, como o ano das rosas.

Um dia ...

Continua...

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