sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Perdoa-me por me traíres - cartas de amor - parte IV


VII.

Minha querida, o amor não se entende, se sente. E ao senti-lo, sente-se também a liberdade, isso porque só se pode amar verdadeiramente alguém, se se ama a vida. O amor do qual falo ultrapassa o amor romântico, muito embora para sentir esse último com qualidade é preciso sentir o amor universal - o amor pela vida e por todos os seres que fazem parte de tudo isso. O amor faz bem a quem ama, sinto-me bem te amando e compreendo hoje, depois de muito sofrer, que te amo como ser humano que somos e não mais como minha grande amada, ainda que às vezes isso me machuque um pouco, pois por muito tempo desejei ser seu grande amor, mas nem sempre as coisas são como gostaríamos não é mesmo querida?

Mas peço-te de coração que não fique amarga, não pense no amor como prisão, este sentimento sentido de verdade é o que de mais nobre o ser humano pode se aproximar, não caia nas armadilhas mundanas, nos amores passionais, e tampouco fique frustrada, achando que não poderá amar verdadeiramente alguém, ame-se minha querida, ame-se em primeiro lugar (demorei para aprender isso, mas é algo essencial), ame depois a vida que tem, ame a natureza, o universo, perceberá que amará também aos seres humanos apesar de todas limitações e todos os vícios que ainda existem na humanidade. Poderá então encontrar alguém com quem partilhar suas experiências ou não encontrar, não há problema nisso, pois não se sentirá sozinha nunca, sentindo o amor do universo.

Isso é tudo o que posso dizer, desejo de coração que fique em paz e que ame, simplesmente ame.

Perdoa-me por me traíres.
De quem te ama do fundo da alma e por toda eternidade te amará.


VIII.

Desculpe-me por parecer ingrata e até mesmo inconveniente, agora vejo o quanto você conseguiu crescer com tudo com o que passamos e como ainda estou longe de sentir esse amor tão lindo, vislumbro agora a nobreza deste sentimento universal do qual falou e desejo de todo coração senti-lo algum dia. Estou me esforçando para entender e amar a mim mesma, mas confesso que está muito difícil, não consigo me perdoar por ter feito o que fiz e não consigo entender seu sempre pedido de perdão, fui eu que te traí, sou que devo pedir perdão e não o contrário.

Sempre foi difícil para mim, quando te conheci te achei perfeito e pensei que jamais pudesse conquistá-lo, mas o contrário aconteceu e você se apaixonou perdidamente por mim, eu te amei também, mas com o tempo algo começou a me incomodar e eu nunca soube o que realmente era. Eu sentia vontade de conversar contigo de tentar entender, mas sempre você surgia com alguma surpresa ou algo maravilhoso e eu perdia a coragem de dizer que... que talvez meu amor não fosse suficiente, que eu não te amava tanto assim e com o tempo fui me sentindo mais culpada por não retribuir seu devotamento, comecei a me sentir mal, destruída por dentro e faltava força para te encarar, para me separar, para reverter a situação. Foi quando conheci alguém e em seu olhar me senti mulher de novo, como se eu pudesse recomeçar, deixar aquela parte velha destroçada por não saber te amar e partir para um novo caminho.

Depois, de ficar com ele, no entanto, me senti extremamente fraca e a culpa multiplicou-se em meu coração, jamais podia ter feito aquilo com você, nunca achei certo isso, mas com você parecia ainda pior, logo você, um homem que sempre me amou que me tratava com respeito, carinho, ética...
Sou eu que tenho que te pedir perdão, perdão por não ter tido coragem o bastante para dar um fim naquela situação e evitar sofrimentos e constrangimentos ainda maiores.

Perdoa-me por TE traíres.

De quem foi fraca, mas que está tentando se melhorar e se amar.

Continua...

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