segunda-feira, 8 de maio de 2017

O ladrão que veio do céu - V

A Encantadora de Almas - continuação

José começou: Há um tempo voava por entre todas as flores uma belíssima borboleta que adorava beijá-las e tirar disso seu sustento, viveria plenamente feliz com sua vida não fosse uma dúvida que lhe perseguia: o que ela seria quando deixasse de ser borboleta?
Certo dia, encontrou outras de sua espécie e perguntou-lhes a respeito, ao ouvirem, as outras borboletas responderam numa só voz:
- Ora, quando você deixar de ser borboleta você estará morta!
- Morta? O que é isso?
- Morta, de morrer... você não sabe o que é morrer? É quando você deixa de existir...
- Ah, mas então eu já morri uma vez quando era lagarta! Deixei de existir como era para me tornar o que sou, uma borboleta! O que eu gostaria de saber é o que eu serei quando morrer como borboleta, qual será a minha próxima transformação, entendem?! – Respondeu a bela borboleta.
- Não haverá uma próxima transformação, quando você morrer deixará de existir completamente, seu corpo ficará sem vida e logo será alimento de outros insetos.
A borboleta se assustou tanto com a resposta que voou rapidamente sem ao menos se despedir. Ela não conseguia acreditar, aquilo não era possível, não poderia ser verdade, como não se transformaria mais? Qual era o propósito de tudo então? Resolveu seguir sua jornada com apenas com a dúvida inicial e não com aquela hipótese terrível.
Algum tempo depois, a borboleta avistou a mais linda das flores – uma rosa cor-de-violeta maravilhosa, pousou nela:
- Olá – disse a rosa
- Oi, sabia que você é a mais bela flor que já vi. E olha que conheço muitas flores.
- Ora, obrigada querida, vejo que é uma borboleta muito feliz, mas que traz algo em seu coraçãozinho que não deixa sua felicidade se tornar plena.
- Além de linda, você também é advinha! – respondeu a borboleta, surpresa – é que eu gostaria de saber o que eu serei quando deixar de ser borboleta, algumas de minha espécie disseram-me que eu morreria, que deixaria de existir para sempre, que tudo acabaria, mas isso não faz sentido para mim, como tudo pode acabar? Por que vivemos e nos transformamos a cada dia, por que há um mundo tão lindo se o fim é deixar de existir? E como é possível isso? O nada não existe, existe? Tudo o que eu conheço é vida e cor, não consigo imaginar o nada... – desabafou a pequena.
- Pois eu digo-lhe que está certa querida, tudo é vida e por isso deve viver plena e intensamente, voando feliz cumprindo sua linda missão de alegrar as flores e a si mesma. E, acima de tudo, acredite, meu bem, no Ser Maior que criou a vida e que nunca desampara uma criação sua. Siga em paz.
As palavras da rosa preencheram de esperança a pequena borboleta que agradecida retribui-lhe com um lindo beijo de amor e seguiu seu caminho por muito tempo distribuindo alegria e afeto por onde passava.
Um dia, a borboleta sentiu-se cansada, pousou sobre o tronco de uma árvore, sentia que seu corpinho já não aguentava mais voar como antes, suas asas estavam enfraquecidas, neste momento, lembrou-se da rosa e do que ela lhe dissera. Será que agora era a hora de sua nova transformação? Em paz e confiante, deixou toda sua existência nas mãos do Ser Maior, acreditava plenamente que algo maravilhoso aconteceria e que se transformaria para seu próprio bem e para o bem do mundo.
Foi quando suas asas se soltaram e envolveram seu delicado corpinho, em um mágico movimento foi saindo de si e se transformando em uma bela mulher tão leve quanto seu estado anterior, linda, serena e que encantaria a todos, pois ela seria a encantadora de almas.



Continua...

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