domingo, 30 de junho de 2024

Nota reflexiva sobre a disciplina “Imagens, transmissão e sobrevivências: perspectivas educacionais”

 

o afeto é revolucionário


Sou professora, logo otimista

Maria Victoria Benevides

 

Neste semestre me vi inserida em contextos de discussões, pensamentos e diálogos que muito me tocaram, mexeram comigo não só em um nível acadêmico, mas também numa perspectiva mais profunda, íntima mesmo, me vi, em duas disciplinas, conversando com autoras e autores dos mais diversos tempos e lugares, mas que traziam em comum, o sentimento de necessidade, necessidade de entender, compreender, denunciar, transformar essa humanidade que somos e não somos.

Vi mais de perto e pude sentir, ainda que numa perspectiva epistemológica que a mim me tocou também a alma, o quão cruel essa humanidade foi, pode ser e ainda é, quantas camadas nos formam e nos escapam ao mesmo tempo, quantos crimes contra nós mesmos foram e ainda são cometidos.

Vi também e senti o quão potentes nós também fomos, somos e podemos ser, quanta luta foi enfrentada e ainda é, como a arte, a escrita, a educação, a academia, as pesquisas, as imagens, as memórias podem nos trazer de volta, de volta de uma humanidade perdida, de volta à uma humanidade que toca o real e que questiona, que luta, que aprende, que ama – naquilo que o amor pode ser e é o mais revolucionário – o poder de nos permitir ver e ser seres humanos dignos de respeito uns para com os outros, para com a vida de uns e de outros, de todos e de cada um.

Os textos propostos me fizeram arder por dentro de alguma forma como nos diz Didi-Huberman[1], arder como as imagens quando tocam o real, as discussões em sala, as imagens projetadas, o acolhimento e a disponibilidade da professora Fabi,  a aula magna com a professora Maria Victoria Benevides, os cravos recebidos, a caminhada ao Monumento aos mortos e desaparecidos da USP, as visitas, sobretudo, ao bairro da Liberdade, que me tocou tanto, que após essa experiência quaisquer outras tentativas de reflexões para o trabalho final falharam categoricamente. Precisava escrever sobre essa experiência, como necessidade poética e política, no sentido de urgência de vida como nos brinda Rilke em suas Cartas a um jovem poeta.

Todas essas experiências do semestre me foram muito significativas, me fizeram refletir, me causaram dor, indignação por um lado, e ao mesmo tempo, visto que a contradição é o sobrenome da humanidade, me causaram também esperança, uma genuína, embora por vezes cansada, vontade de continuar, de estudar, pesquisar, escrever mais, de viver lutando as lutas cotidianas com poesia e amor (pois que essas são minhas principais armas), de continuar questionando, de continuar buscando ser melhor, viver melhor, com quem está ao meu lado no dia a dia, a revolução é viral, me disseram, é no miúdo das relações ordinárias que as grandes transformações se iniciam, é no cotidiano que tocamos o real, que o afeto é revolucionário, e é aí, precisamente, que está a minha revolução.

 

 

À professora Fabiana Jardim, minha gratidão.

 

Bruna Cadenas Cardoso

Junho de 2024



[1] Didi-Huberman, Georges. Quando as imagens tocam o real. Pós, Belo Horizonte, v.2, n.4, pp.204-

219, nov. 2012.

Nota reflexiva sobre a disciplina “Imagens, transmissão e sobrevivências: perspectivas educacionais”

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