quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Sacramento, domingo cedinho, quarto de hotel.

Miau, miau miau.

Onde está o gatinho que tanto mia? 

O que será que ele quer?

Abro parcialmente a janela, a luz entra, mas não o consigo ver.

Miau, miau, miau - os miados continuam.

Abro a janela inteira, o procurando, olho para baixo e lá está ele, ou será ela?

Ele mia olhando para mim, olhos verdes claros brilhantes, corpinho laranja, parece querer se achegar, mas como?

Da onde ele vem? Será que ele é do hotel? Será que ele quer entrar?

Saio do quarto para ver a porta do lado que dá para o estacionamento onde ele está, a porta está trancada, mas o que é uma porta fechada, se há uma janela aberta?!

Assim que entro no quarto de volta, ele entra pela janela - surpresa! - ele conseguiu pular, é claro, é um gato e gatos saltam, gatos entram onde querem.

Ele entrou em meu coração.


O que eu faço? Pega ele e coloca para fora diz minha colega do banheiro, sem dar muita atenção ao incrível visitante inesperado.

Chego pertinho dele e faço carinho, não sei se posso pegá-lo, não tenho tanta intimidade com gatos, já fui meia-mãe de Caetano e sinto saudades dele, será que eu sei?

Ele se derrete em meu carinho, vira a cabecinha, inclina as orelhinhas, ronrona, ah, meu coração se alegra, ele gosta de meu carinho, ronrona e entra ainda mais em meu coração.

O pego no colo com cuidado, ele deixa, o levo ainda de camisola até a recepção, torcendo para que ele seja do hotel, para que fique, também aqui e não só em meu coração.

O dono do hotel me olha espantado, não ele não é daqui, é gato de rua, cuidado, diz ele. Pode colocar ali fora, deve ser da vizinhança, completa.

O coloco na porta delicadamente, mas gatos são gatos, entram onde querem entrar, ele, lógico, entra de novo no hotel, o dono vai atrás, o gatinho indiferente a de quem é o prédio, corre pelos corredores, entra e sai de meu quarto antes que eu volte e vai embora - não o vejo mais.

Mas ainda assim, ele ficou, ficou em meu coração.

17.07.2022

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Sobre o que se vê e o que não se vê





São escolhas, a vida é feita de escolhas, o olhar é feito de escolhas.

Impossível ver tudo, necessário não ver.

Quando num quadro imersivo, numa história contada por todos os lados, ela escolheu se sentar, escolheu olhar para o lado de cá, deu as costas para o lado de lá.

Viu histórias que eu não vi, e, eu, as que ela não podia ver.

O que é a vida senão feita de histórias, de imagens, músicas, impressões que nos chegam e nos tocam, ou que passam por nós sem nunca nos chegar?

Eu vi o tema mudar, vi as palavras que amo tanto, e que me fazem tanto sentido - apresentar, poetizar as pinturas e a música que viriam - ela, não, não viu as palavras, não viu as pinturas que vi, mas viu outras que eu não vi.

E nesse vai e vem de pinturas, de músicas, de escolhas, cada uma viveu o que tinha de viver, viu o santo, o Jesus que tinha de ver, se encantou e foi tocada pelos anjos dos céus, que são muitos, como a arte, como a vida é.

01.07.2022

Exposição portinari

sábado, 26 de março de 2022

Eloísa


O mundo ficou novo de novo.
Nasceu Elô.
Nasceu mais uma vida neste mundão de amor.
Nasceu o amor mais uma vez.

Quando nasce um bebê, nasce um amor maior do mundo.
Nasce um mundo todo de amor.
Todo mundo nasce em amor.
E Elô nasceu.
Hoje.
Uma semana depois das bênçãos de amor.
Nasceu amando e sendo amada.
Nasceu abençoada.

Venha Elô, bem-vinda,
Venha Elô amada,
Ser feliz e amar,
Venha Elô viver essa vida linda,
Venha Elô.


Que o amor guie todos os teus passos.

Com carinho,
Bru

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Professora, o sol!!

Porque apesar dos adultos, as crianças existem.

Porque apesar dos adultos, as crianças resistem.

Porque apesar dos adultos, as crianças poetizam.

As crianças brincam, abraçam, choram, limpam as lágrimas e continuam. 
As crianças brigam, e se perdoam com a mesma facilidade, ajudam, e amam, porque sabem que ajudar e amar é tudo o que existe, o que deveria existir.

Bernardo viu o sol pela janela na hora da refeição, o sol dourado, tímido iluminou de repente, depois de uma tarde quente e chuvosa, todo o ambiente.
Bernardo me olhou com aqueles olhos expressivos que carregam o mundo todo e gritou de seu lugar, do seu jeitinho, com sua fala cada vez mais desenvolvida:
Professora, o sol!
E a alegria que estava em seu rosto e em seu coração, iluminou todo ambiente ainda mais que o astro rei,  e iluminou também meu coração.

Que a gente olhe para janela, olhe para nossos corações e veja o sol de Bernardo.

Eu não morri

  Eu não morri. Aquela que você achou que morreu ou que eu tinha matado, não morreu. Eu nunca morri. E, no entanto, morremos todos, todos...